top of page

Fotometria na fotografia digital: uma introdução

Foto do escritor: Paulo Felipe SouzaPaulo Felipe Souza

Em se tratando de fotometria, é dito aos iniciantes que a melhor maneira de se começar na fotografia digital é zerando o fotômetro.

Se você já domina essa técnica e já percebeu que não é suficiente este ajuste, este artigo vai te apresentar uma maneira diferente de decidir qual a melhor maneira de fotometria da sua cena.

É comum tentarmos entender os conceitos de medição pontual, medição matricial e medição ponderada para então estarmos satisfeito com nossa decisão na hora de fotografar.

Mesmo depois de conhecer essas formas de fotometria, uma pergunta ainda resta ser respondida: qual devo utilizar? Você ainda não sabe se fez a melhor escolha (ou não) mesmo depois de se apropriar desses métodos.

Isto ocorre porque ainda falta um marco, um ponto de partida que não seja apenas o de zerar o fotômetro.

Vou responder aqui qual seria então este ponto de partida e depois eu explico:

Você deve encontrar a medição que permita a você obter o maior número de informação inteligível digitalizada.

Essa resposta somente é possível de entender posta à luz da fotografia analógica.

Visto que, historicamente, a fotografia digital veio para resolver os problemas dos fotógrafos com câmera analógica.


Um pouco do mundo da fotografia analógica para você entender onde você está hoje


O grande mérito da fotografia analógica consistia em filmes extremamente sensíveis a regiões dos cinzas médios. Qualquer distúrbio no equilíbrio entre as cores primárias presenteava o fotógrafo com belas cores nessa região (quando ele acertava. é claro).

O que tornava ela um tanto artificial era sua quase insensibilidade a variações maiores na gama dos cinzas escuros.





Quanto mais observamos fotografias antigas, menos a tecnologia da época era capaz de reproduzir com fidelidade a variação dos "tons de sombras", o mesmo valia para as regiões de grande luminosidade.

Observe que na imagem do histograma acima, as informações digitalizadas "brigam" por um espaço próximo ao centro, enquanto que nas regiões dos cinzas escuros (à esquerda no histograma) as informações se "espremem" em um intervalo muito curto causando um pico.

Observe, ainda, as regiões centrais do histograma. Nela reside o forte da fotografia analógica: as curvas são suaves nos cinzas médios. E, à medida que se caminha para a direita (regiões luminosas) mais a altura da "montanha cinzenta" declina a ponto de não deixar passar informações para fora do histograma.

No mundo analógico, o material do filme era projetado para ter maior sensibilidade em regiões escuras (com perda de gama de "cinza") e, à medida em que a iluminação se tornava mais intensa, ele se tornava menos sensível.

Era como a tecnologia da época tentava simular os nosso olhos. A respeito da nossa visão, ao olharmos para um cenário muito claro (pôr do sol), não perdemos a informação das regiões menos iluminadas. Nossos olhos brigam para manter a sensibilidade a objetos em sombras e impedem que o excesso de iluminação (como a do sol) roube toda a informação da cena.

A fotografia digital simula esta funcionalidade do filme mediante aplicação de uma curva logarítmica. Falamos sobre isso no artigo sobre o efeito vintage.

Uma boa foto, no mundo analógico, portanto, significava ajustar o equipamento (os pilares da fotografia) para obter a melhor gama de cores e diversidade de sombras e luminosidade possível para aquele objeto em específico.

Uma foto analógica medida errada "queimava" o filme, ou seja, levava o objeto para uma região de intensidade luminosa incapaz de reproduzir as cores e variações de sobras e luminosidade. Lembre-se de que é assim que nós humanos diferenciamos os objetos, com regiões de sombras ao nosso entorno.


De paraquedas na fotografia digital


Historicamente, a fotografia digital veio para resolver os problemas da fotografia analógica. Com a sua câmera digital, é muito mais fácil verificar na tela do LCD se a sua medição trouxe as informações para dentro da região da gama processada pelo seu equipamento.



Isto posto, a questão de acertar ou errar na fotografia digital passa a estar ao entorno do melhor ajuste para que a sua edição tenha a maior flexibilidade possível, isto inclui evitar que os pixels caiam fora da região processada pela gama da sua câmera.

O método de fotometria a ser utilizado, então, é aquele que melhor abocanha as regiões de sombras e realces para o pós-processamento.

Na imagem acima, todo o gama da cena está dentro do histograma, ou seja, dentro daquilo que o equipamento faz de melhor em sua tentativa de simular o gama captado por nossos olhos.


A imagem acima foi ajustada apenas em seu nível de exposição. Foi trazido o foco de intenção para o meio do histograma. Veja como a câmera, mesmo em seu esforço, não consegue corrigir sua curva logarítmica a ponto de trazer a iluminação das sombras (provocadas pelos bonés) para uma região próxima da iluminação do rosto. Nossos olhos fazem esta correção automaticamente: "trazem" as sombras do rosto para um nível próximo da parte melhor iluminada de uma tal maneira que você mal percebe a transição de iluminação.

Compare a iluminação do rosto da imagem acima (como um todo) com a região dos braços, que recebe a iluminação mais intensa do cenário. Há um grande contraste entre elas [Mais à baixo, você fará a mesma comparação].

Um jeito de forçar o seu equipamento a entender que essas sombras não são tão distantes do foco principal é mediante o uso de um rebatedor, ou o próprio flash ativo:


Na imagem acima, o flash fez o papel de subir o nível da região de sombra provocada pelo boné para próximo da iluminação das maçãs do rosto. Compare ainda a iluminação do rosto (como um todo) com a parte do braço que recebe a luz mais intensa do cenário: o contraste não é tão grande quanto o contraste que pedimos para você observar na comparação anterior.

Como, nesse caso, o uso do flash diminuiu o contraste entre sombras e os tons médios do rosto, um leve ajuste somente nas sombras seria o suficiente para deixar a imagem próximo de como os olhos viram a cena:


Antes de subir o nível das sombras e depois.


Conclusão


Ao contrário do que muita gente imagina, não se faz a fotometria para acertar a melhor iluminação do objeto, e sim para obter o maior número de informações da cena na qual aquele objeto está inserido.

Parece duas coisas iguais, mas não são. Pois acertar uma fotometria (qualquer que seja a forma de medição: pontual, por exemplo) não significa necessariamente que toda a cena esteja dentro das possibilidades de recuperação.

Por outro lado, trazer toda a sua cena para dentro da gama editável, frequentemente, significa fotografar o objeto de interesse com baixa ou com alta exposição.

Você pode verificar na própria tela da sua câmera as informações de sua imagem fotografada.

Neste sentido, pouco importa se você escolheu a medição pontual, matricial ou ponderada pelo centro. Todas elas são apenas um meio de se alcançar o objetivo de se trazer as informações digitais para o gama editável.

Por mais que esses conceitos de certo e errado sejam delicados de se tratar, é importante deixar claro que o ideal é não perder informações digitais, tanto nas regiões de realces quanto nas de sombras.

Mas nem sempre o mundo real vai te presentear com iluminação adequada, por isso você precisa saber usar o flash da sua câmera.



Comentários


bottom of page